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Pedro Mariano e Luciana Mello |
Com cenário luxuoso que trazia elementos de alta tecnologia,
com uma fotografia muito bem cuidada, e com uma banda competente, dirigida por
Otávio de Moraes, o especial O fino da
bossa foi uma grande surpresa da emissora que, atualmente, investe em
programas de características mais populares e prioriza o noticiário policial. O
programa merece, inclusive, uma reprise, em um horário mais cedo (ele foi
exibido às 23h15).
À frente da homenagem, Pedro Mariano, filho de Elis, e
Luciana Mello, filha de Jair Rodrigues. Coube aos dois as honras de receber os
convidados e, em grande parte dos números, dividir os vocais com eles. Foram
chamados nomes da “velha geração”, como Elza Soares e Gilberto Gil, e da nova
geração, entre eles, as cantoras Iza e Kell Smith.
O que deu bossa
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Jair e Elis no programa O Fino da Bossa |
Pedro se juntou à Fernanda Takai e a Marcos Valle para um
medley de clássicos do movimento, entre eles, Samba de verão, O barquinho,
Vivo Sonhando e Tarde em Itapuã. Um dos pontos altos do programa.
Max de Castro, Simoninha a Iza subiram ao palco para uma
merecida homenagem ao legado de Wilson Simonal, nome importante da época do
programa e na trajetória de Elis. O balanço foi bom, apesar de que Marcos Valle
também merecia ter sido chamado para se juntar a eles – uma das canções
lembrada foi Mustang Cor de Sangue,
composição de Valle.
Simoninha também fez dupla com a cantora Kell Smith (do hit Era uma vez) na canção Você (Ronaldo
Bôscoli e Roberto Menescal) e deu um banho de swing brasileiro em Kell.
Alcione foi chamada para relembrar sucessos de Jair e
desfilou seu vozeirão em músicas como Orgulho
de um sambista e Tristeza. A
primeira música foi uma das “licenças musicais” praticadas pelo programa, já
que foi lançada por Jair em 1973, anos depois do término do Fino.
De filhos para pai, Jairzinho e Luciana Mello homenagearam Jair
Rodrigues cantando Disparada, sucesso
do festival de música brasileira de 1966. Luciana não conteve a emoção.
Pedro reverenciou a mãe em um dueto virtual, no qual a voz
dele se juntou a de Elis na canção Casa
no campo – em mais uma licença, já que a música foi gravada pela cantora em
1972. O número, que foi lançado em um single no começo de 2018, está disponível
nas plataformas digitais.
O histórico pot-pourri feito por Elis e Jair por bossas e
sambas de morro em 1965 foi lembrando por Elza Soares, Diogo Nogueira e Luciana
Mello. Deu (muito) samba.
No fim, todos os convidados se juntaram para cantar Upa, neguinho, um dos maiores sucessos
da carreira de Elis.
Em tempo: a curadoria dos convidados foi feita por Zé
Ricardo, diretor artístico do palco Sunset do Rock in Rio. Aliás, que tal um
fim de tarde com O fino da bossa no
festival do próximo ano?
O que não deu bossa
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Jair, Araci de Almeida e Elis na época do O fino da Bossa |
Faltou ao programa justamente aproveitar as deixas que esses
entrevistados – aqueles que foram testemunhas do que aconteciam no palco –
davam em seus depoimentos. Zuza, por exemplo, ressaltou que a plateia que ia às
gravações do Fino tinha oportunidade de ouvir (e ver) pela primeira vez músicas
que haviam nascido ali, nos ensaios do programa. O caso, por exemplo, de Canto de Ossanha, o afro samba de Baden
Powell e Vinicius de Moraes. Baden, inclusive, foi de grande importância naquele
momento para a carreira de Elis. O compositor não foi citado ou cantado.
Outra fala de Zuza que foi mal aproveitada foi a que ele opinou
que o maior duo feminino do programa foi o protagonizado por Elis e Elza Soares
(em uma caixa com três CDs que lançou em 1994, com registros feitos ao vivo do O Fino da Bossa, Zuza destacou duas
faixas que juntam Elis e Elza. Devagar
com a louça [Elis e Elza] e Se acaso
você chegasse [Elis, Elza e Jair]). Elza, presente ao especial, foi indaga
por Pedro e Luciana sobre os tempos do Fino. Respondeu de forma bastante
genérica. Quem sabe se o áudio fosse mostrado à cantora a emoção e as
recordações não seriam maiores?
Zimbo Trio, a base musical do Fino, também ficou de fora da festa. Amilton Godoy, Luís Chaves e
Rubinho Barsotti criaram diversos arranjos, foram os fieis escudeiros de Elis
no O Fino da Bossa. Mereciam – ao
menos - uma menção.
Claudette Soares, como bem já lembrou uma reportagem do
portal UOL, também não foi lembrada. Contratada da TV Record à época, ela, além
de participar do programa, foi apresentadora do Fino durante a viagem da Elis
para a Europa, em 1966, e em outras ocasiões nas quais Elis não pode comparecer
às gravações. Claudette tem histórias divertidíssimas sobre esse tempo. Em
plena atividade artística, também poderia ter sido convocada para cantar no
especial, já que bossa é o que não lhe falta.
Nilton Travesso, que integrava a Equipe A da TV Record,
núcleo criativo da emissora nos anos 1960, foi creditado em seu depoimento como
“Diretor de programas”. Manoel Carlos, Raul Duarte, Antônio Augusto Amaral de
Carvalho, Ronaldo Bôscoli e Luís Carlos Miele, que também produziram e
dirigiram o Fino, não foram
lembrados, nem no palco e nem nos depoimentos.
A velha guarda que tinha portas abertas no Fino também foi esquecida. Estiveram na
edição original Adoniran Barbosa (a irreverente participação do compositor está
registrada na série de CDs lançada por Zuza Homem de Mello), Ataulfo Alves,
Ciro Monteiro, Silvio Caldas, Araci de Almeida, entre outros.
Protagonista do O fino
da bossa original ao lado de Elis, Jair e convidados, a plateia, nessa
edição especial, formada, em sua grande maioria, por convidados, estava mais
morna. Em um dos momentos, foi possível ver, bem lá no fundo, uma turma mais
animada. Merecia a fila do gargarejo.
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